domingo, abril 05, 2009

Proteção, cores e santos

-Epa Epa Bàbá! Deixe eu “indo” que amanhã é dia de branco!

A frase acima talvez não faça sentido para muitas pessoas. Porém, se formos a fundo, vamos perceber que se trata de uma saudação a um dos mais importantes orixás do candomblé, Oxalá, que siginifica “Viva o Pai”! A cor branca refere-se ao dia regido por ele, que é a sexta-feira.

Mas apesar da falta de conhecimento, muitos baianos, mesmo não sendo adeptos dessa religião africana, que chegou ao Brasil no período do tráfico de escravos, incorporaram vários elementos dela ao próprio cotidiano. Um deles é o costume de usar as cores características de cada entidade do dia correspondente.

Para a funcionária pública Hildete Lopes Santos, 56, que também é mãe-de-santo do terreiro Ilê Axé Oyá Ogundê, localizado no Engenho Velho de Brotas, as cores não são apenas uma forma de representação ou reverência ao respectivo orixá. Servem também como forma de proteção: “Por exemplo, quando eu mais necessito de alguma força superior, eu coloco a cor daquele orixá e acho que estou bem protegida e até mais forte contra todos os males”.
Opinião semelhante é a do jornalista Jorge Velloso, 25. Para ele, proteção e reverência estão lado a lado: “Eu particularmente não uso preto nem vermelho, já que meu orixá (Oxalá) não gosta dessas cores, mas sempre que vou ao guarda-roupa dia de terça-feira e vejo um azul (cor de Ogum, orixá correspondente também a terça-feira), eu visto. Da mesma forma quando acho uma camisa com o desenho de São Jorge ou algum santo ou orixá equivalente ao dia. Mas acredito que colocando a cor atribuída a determinado santo, a pessoa está agradando-o e, por receber este agrado, tenho certeza que o orixá o retribui dando a proteção”.

OXALÁ OU SENHOR DO BOMFIM? – Mas, e a cor branca que foi citada na primeira parte do texto? Por que ela é mais presente na população soteropolitana do que outras cores como vermelho, azul ou amarelo, que são as cores de Iansã (quarta), Iemanjá (sábado) e Oxumaré (terça), respectivamente?

Hildete afirma que a grande busca pela paz da humanidade fez com que a cor branca fosse adotada com mais facilidade por aqueles que não são adeptos da religião: “Oxalá é o principal representante do candomblé, trazendo calma e tranquilidade e nós preservamos isso no candomblé, por isso o branco. Acho que as pessoas de fora usam essa cor, para se sentirem, de alguma forma, protegidas, pois atrai muitas coisas positivas repelindo tudo que há de ruim próximo a elas, além de acharem a cor atraente”.

Já Velloso acha que ainda há uma certa discriminação das pessoas em assumirem o branco, por conta do candomblé, apesar da força da religião: “O branco é tão adorado aqui na Bahia que até beatas usam a cor para homenagear indiretamente o orixá (Afinal, no catolicismo, Oxalá é associado ao Senhor do Bonfim). No fundo, todos sabem que o costume é de herança afro-descendente, mas as pessoas ainda têm uma certa resistência em assumirem que estão de branco por conta de Oxalá e falam que é por conta de Senhor do Bonfim”.

(Yuri Abreu)

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